Soheila Sokhanvari: a iraniana que usa a arte como ato político
Mahsa Amini estava em frente a uma estação de metrô em Teerã em uma manhã de setembro quando foi parada pela polícia da moralidade do Irã. Ela foi presa sob a acusação de usar roupas impróprias – seu hijab estava “torto” e ela estava usando “calças apertadas” – e levada para uma delegacia próxima. Três dias depois, ela estava morta. A família de Mahsa afirma que ela foi espancada até a morte sob custódia. Depois disso, protestos contra a morte dela e o maltrato contínuo das mulheres no país abalaram o Irã.
“Esses protestos são totalmente sobre as mulheres”, explica a artista iraniana Soheila Sokhanvari. “No entanto, pela primeira vez na história do Irã, os homens também estão participando com gritos como ‘nós respeitamos nossas irmãs e esposas’. O mundo está vendo os corajosos jovens iranianos nas ruas, desafiando o regime e lutando pela liberdade de mãos dadas.”
É nesse contexto que a nova exposição individual de Soheila Sokhanvari, Rebel Rebel, estreia no Barbican, em Londres. A obra de Soheila é conhecida por lamentar o fim da vida antes da Revolução Islâmica do Irã em 1979 e a aniquilação dos direitos das mulheres no país desde então. O Irã pré-revolucionário era moderno, progressivo e até mesmo divertido. A revolução mudou tudo. O fundamentalismo tomou conta, impulsionado por um regime patriarcal que persiste até hoje. O novo trabalho da artista dá continuidade a essa conversa explorando as contradições da vida das mulheres iranianas entre 1925 e a revolução de 1979. “As mulheres iranianas têm sido um indicador visual do partido no poder”, explica ela. “Em 1936, Reza Shah ‘revelou’ as mulheres. Já a revolução colocou o véu nelas novamente, além de proibi-las de cantar e dançar em público. Portanto, a liberdade feminina é uma pequena janela histórica na qual as iranianas criaram uma plataforma artística e, embora essa oportunidade muitas vezes as objetificasse, estranhamente, também as libertava.”
Mergulhada em um realismo melancólico e mágico, a exposição inclui retratos em miniatura de algumas dessas artistas. “O título Rebel Rebel é uma homenagem à coragem de ícones femininos que seguiram suas carreiras em uma cultura apaixonada pelo estilo ocidental, mas não por sua liberdade”, diz Soheila. “Elas incluem Roohangiz Saminejad, a primeira atriz a aparecer sem véu em um filme em língua persa, a controversa poeta modernista Forough Farrokhzad e a intelectual e escritora pioneira Simin Dāneshvar. Queria falar sobre as figuras de um período fugaz e contar uma história alternativa do Irã moderno, com mulheres que lutaram por uma plataforma, mas acabaram silenciadas pelos homens.”
Será que Soheila se considera uma artista política? “Embora eu não use explicitamente meu trabalho para ganhar pontos políticos, estou compartilhando a história e celebrando a vida de mulheres radicais, o momento histórico em que elas viveram e como suas vidas mudaram após a revolução de 1979. Isso é um ato político.”
Rebel Rebel está em cartaz na galeria The Curve, em Londres, de 7 de outubro de 2022 a 26 de fevereiro de 2023
Simon Coates é artista, escritor e fundador da plataforma de artes e ativismo Tse Tse Fly Middle East
The Lor Girl (portrait of Roohangiz Saminejad), 2022; Let Us Believe In The Beginning Of The Cold Season (portrait of Forough Farrokhzad), 2022; Hey, Baby I’m A Star (portrait of Fouzan), 2019; Tobeh (portrait of Zahra Khoshkam), 2020; Rebel (portrait of Zinat Moadab), 2021. All works © Soheila Sokhanvari and courtesy of the artist and Kristin Hjellegjerde Gallery