O cineasta nigeriano que usa IA para combater o preconceito de idade na indústria da moda
A idade avançada não parece ter muito lugar na moda. Quando pensamos em desfiles, imaginamos modelos jovens, muitas vezes magras demais e predominantemente brancas, com pele tão perfeita que parece cristalizada no tempo. O mesmo vale para campanhas publicitárias, outdoors e editoriais de moda.
Mas como seria se pessoas idosas – ou apenas mais velhas – também tivessem um lugar no palco? Fashion Show For Seniors, uma série de fotos do cineasta e artista nigeriano Malik Afegbua, tenta responder a essa pergunta.
As imagens são uma homenagem à velhice. Modelos negros africanos de ambos os sexos, com cabelos grisalhos e rostos enrugados, desfilam envoltos em lindos xales, elaborados geles (um tipo de laço de cabeça usado predominantemente na África Ocidental) e fila (um chapéu macio para homens). O efeito geral é alegre e cativante, com os modelos orgulhosos de suas idades.
Mas eles não são reais. Malik usou software de IA para criar esse mundo paralelo da moda, mostrando como a tecnologia pode desafiar os estereótipos e incentivar novas conversas sobre o preconceito de idade.
“Sempre tento encontrar novas maneiras de contar histórias com meu trabalho”, diz ele de sua casa em Lagos, na Nigéria. “A inteligência artificial está se mostrando uma ferramenta fantástica porque pode ajudar a criar coisas que não existem – como modelos mais velhos em uma passarela, por mais óbvio que possa parecer. Vejo isso como uma maneira de mudar as percepções.”
Fashion Show For Seniors – que impulsionou Malik ao estrelato no Instagram e na mídia no início de 2023 – é parte de um empreendimento maior intitulado The Elder Series, que visa desconstruir estereótipos de pessoas mais velhas e celebrar rostos e corpos africanos. O projeto coloca vovôs e vovós digitais em belas roupas coloridas inspiradas nos trajes tradicionais nigerianos e na moda afro-futurista.
A inspiração de Malik foi sua mãe. “Ela teve um AVC no ano passado. Está sendo muito difícil, pois sempre fomos muito próximos”, diz ele. “Imaginei um lugar onde ela seria feliz, e foi assim que comecei a trabalhar nisso. Achei que essas imagens colocariam um sorriso no rosto dela e talvez de outras pessoas também. A partir daí, surgiu o desejo de representar pessoas idosas e marginalizadas. Quero que elas se sintam vistas.”
Questionado se ele acha que a IA era a única maneira de alcançar essa visibilidade, Malik confirma de forma enfática. “Se eu fosse a uma produtora para propor que colocassem um grupo de idosos na passarela, eles pensariam que eu estava brincando”, explica ele. “Mas como este é um produto acabado, podemos ver que o resultado é impressionante e pode ser alcançado. É mais fácil conseguir aprovação.”
Ele acredita que a IA pode ser uma ferramenta poderosa para as artes em geral. “A tecnologia só vai melhorar”, diz ele. “Então, por que não abraçá-la? Ela pode ajudar artistas a chegarem ao seu destino com mais rapidez e clareza.”
Segundo ele, os criadores negros também podem usar a IA para melhorá-la. “Se você pesquisar ‘mulher negra em desfile de moda’ no software de IA, as imagens que fiz podem aparecer, porque agora fazem parte do sistema”, diz ele. “Isso pode expandir a forma como somos retratados digitalmente, ou seja, melhorar a representação. Acho que é um relacionamento que só vai ficar mais forte.”
Marianna Cerini é escritora freelance e já publicou artigos na Conde Nast Traveler, BBC Travel, CNN Style e Fortune
