O arquivo que narra a realidade da comunidade queer de Londres
Dedicado a celebrar a herança criativa das comunidades lésbica, trans, não binária e sem conformidade de gênero, o HÄN não é um arquivo comum. “Qualquer um pode nos enviar o que quiser”, diz a fundadora Ella Boucht. “Trabalhos, textos, mensagens antigas enviadas a um grande amor, imagens de pessoas queer mais velhas ou admiráveis, uma cinta, seu café da manhã ou o primeiro binder: tudo é válido”, completa.
Em parceria com a escritora Anastasiia Fedorova e a fotógrafa Anya Gorkova, Ella, que é uma estilista e diretora criativa finlandesa, lançou o HÄN em julho de 2022 para ilustrar a amplitude e a profundidade da experiência e criatividade queer em Londres. Um misto de publicação, arte, arquivo digital, site e projetos comunitários, o HÄN narra “o sentimento e a realidade queer no cotidiano”, desconstruindo o significado mais convencional de um arquivo contemporâneo. É uma entidade viva, que se expande e se transforma, assim como as identidades que retrata.
Originalmente concebido por Ella em 2020, o projeto existe há dois anos. Neste período, o trio mergulhou nos arquivos queer do Bishopsgate Institute (“o melhor lugar para um date”, diz Anya) e na biblioteca Central Saint Martins, entre outros. Para marcar o lançamento do HÄN no Reference Point em Londres, a equipe responsável lançou uma publicação limitada homônima para servir de ponte entre o passado e o futuro queer.
Ilustrada com retratos monocromáticos íntimos de Anya, a primeira edição se concentra no gênero e sua representação atual, celebrando “a fluidez e a emoção da mudança”, diz Anastasiia. Para a publicação, Anastasiia entrevistou membros da comunidade LGBTQIA+ de várias origens, do drag king e performer burlesco Prinx Silver à pioneira Lydia Birgani-Nia e a artista marcial Black Venus. O resultado é uma publicação sexy, séria, divertida, doce, desafiadora e, acima de tudo, radicalmente esperançosa em “um mundo que está, ao mesmo tempo, queimando e renascendo”.
A missão final é construir um arquivo queer contemporâneo e de acesso global, algo extremamente apropriado para o momento atual, em que se observam imensos retrocessos nos direitos LGBTQIA+ no mundo todo. “Parece que estamos finalmente nos reconectando a nós mesmos, refletindo sobre o passado, reconhecendo o presente e criando um futuro cheio de novidades e emoções”, diz Anya. “E, desta vez, estamos fazendo isso à nossa maneira.”
Nini Barbakadze é jornalista de moda e editora da Phreak Issue, com artigos publicados na Financial Times, Love Magazine, Metal Magazine, Forbes, Coeval Magazine e Year Zero, entre outros.